sábado, 15 de junho de 2013

15 de junho de 2013 - Ninguém é Peter Pan


  Os reflexos já não são os mesmos. A disposição, idem. Os hábitos vão esmaecendo, vão esfuziando e um dia, eles desaparecem.  A gente demora pra notar, mas o tempo passa e, quando se dá conta, cresceu tudo o que tinha pra crescer, tem nas costas a maioridade e tudo o que ela traz. Tem no rosto, barba e olheiras. Na mente, ideias novas e diferentes.

A gente não percebe. Tudo é tão alardeado e ainda assim, nos esquecemos, ou talvez tenhamos preferido não enxergar. No passar dos anos, uma revolução aconteceu e te fez “capaz de ser qualquer pessoa”, exceto o alguém que você era.

De repente, mas, não tão repentinamente assim, o desenho animado já não anima, os amigos são outros(se é que ainda os têm), a música favorita de outrora já não está na memória. São outras bandas, outros costumes, outras palavras, outras pessoas. Um corpo novo e uma nova vida. No fim das contas, o que restou, de fato, foi o nome e algumas das suas associações.

A disposição para acordar é ainda menor, as obrigações, maiores. A memória claudica, o corpo se fragiliza e o tempo, ele corre contra nós. A gente também sabe, mas ignora igualmente: daqui pra frente, não tem como esconder a ação do tempo. Não tem como ser você. Junte os trapos, as coisas aprendidas, as lembranças cada vez mais distantes e siga em frente.

Aprenda a tolerar. O trabalho indesejado, a companhia indesejada, a situação indesejada. Envelhecer, é aprender a tolerar. É resignar-se. Quando você se dá conta do que o tempo te fez... do que ele ainda há de fazer, a resignação é instantânea. Então, torça pra ter uma memória ruim. Em pouco tempo, vai esquecer de paixões, de quereres, de sonhos, desafetos, até as cenas de filmes, irão parecer sequencias de fotografias desbotadas, após algumas semanas.

Envelhecer, é o caminho natural. É aceitar, é relegar.

Quando paro e penso(situação cada vez mais incomum), percebo o quanto mudei. O quão complacente me tornei. O quanto anseio por assimilar o que me falta e me acoplar ao contexto que já se impregnou a mim, há tempos. O quanto anseio, quem diria, por mais e mais apatia.
Eu tô cada vez mais indiferente. Cada vez mais esquecido, cada vez mais sozinho. Nada poderia ser mais adequado. É a maturidade chegando. Nada disso é por acaso, isso é envelhecer. Eu tô ficando velho.

A vida não gosta de fantasias. Ninguém é Peter Pan.

6 comentários:

  1. Oi Elton,
    Estou passando para avisar que indiquei essa postagem sua como uma das melhores que li essa semana na blogosfera. Espero que goste da homenagem: http://thevitro.blogspot.com.br/2013/06/espaco-do-leitor.html#comment-form

    O Vitrô

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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